De Portugal, a devoção à Nossa Senhora da Esperança

 

De Portugal, a devoção à Nossa Senhora da Esperança foi trazida para o Brasil pelos primeiros colonizadores portugueses, que aqui chegaram, porque seu culto havia se afervorado, no ciclo dos descobrimentos, pela intensa fé dos navegadores, que, sob a sua proteção, se aventuraram "por mares nunca d'antes navegados".

Encontramos uma prova deste fato na obra de Damião Peres, "História da Colonização Portuguesa no Brasil", editada, no Porto, em 1924.  Na página 25 desta obra, Jaime Cortesão nos apresenta uma gravura de Nossa Senhora, com a seguinte inscrição: "Imagem de Nossa Senhora da Esperança, que acompanhou Pedro Álvares Cabral na viagem do descobrimento do Brasil..."

Mas, onde se encontraria aquela imagem histórica?  Na obra citada acima, não encontramos outras referências.  Hoje, entretanto, já temos uma resposta satisfatória.  É G. Herstal quem no-la dá, em seu livro: "Imagens religiosas do Brasil", editado, em São Paulo, em 1956.  Ali, ele nos diz, claramente, que ela se encontra "... na Quinta de Belmonte, em Portugal...".

Em Belmonte, terra natal de Pedro Álvares Cabra, venerava-se Nossa Senhora da Esperança.  Conta a história que o rei Dom Manuel, no dia 8 de março de 1500, domingo, após a missa celebrada pelo bispo Dom Diogo Ortiz, vendo as caravelas prontas para zarparem, entregou a Pedro Álvares Cabral o estandarte régio e a imagem de Nossa Senhora da Esperança.  No dia 22 de abril, após a travessia do Oceano Atlântico, Cabral ancorava com sua frota, em Porto Seguro, Bahia.  No dia 26 de abril de 1500, todos participavam da Santa Missa, a primeira missa em terras brasileiras, celebrada por Frei Henrique de Coimbra.  E, no altar improvisado, erguido à sombra da Cruz, pousava a imagem de Nossa Senhora da Esperança, que acompanhara a expedição de Cabral, desde Portugal.  No Brasil, os primeiros estudos sobre Nossa Senhora da Esperança foram feitos pela primeira vez, em 1958, por Maria Regina, ainda como aluna, quando recuperou o primeiro capítulo da História do Brasil.  Segundo a pesquisadora, tudo começou no encontro casual de uma foto-legenda encontrada no arquivo paroquial da Igreja Nossa Senhora do Ó, bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo, com o esclarecimento que esta era também uma das invocações de Nossa Senhora da Esperança.  O maestro Vila Lobos declarou-se inspirado na imagem ao escrever uma sinfonia para Brasília.  O cardeal dom Carlos Carmelo Motta falou à imprensa o seu propósito de levar à conferência Nacional dos Bispos, CNBB, na reunião de Goiânia em 1958, o problema do retorno ao Brasil, da venerada e histórica imagem de Nossa Senhora da Esperança.  Tal empenho não ocorreu.  Para inauguração de Brasília, apesar das negociações diplomáticas, os portugueses, mais especificamente os belmontenses, chegaram a ficar armados diante da igreja, obstuindo a saída da disputada imagem de Nossa Senhora da Esperança.  Dois anos depois, foi trazida à capital brasileira, uma cópia em mármore, que hoje se encontra na catedral de Brasília, sem os atributos da verdadeira.

A imagem verdadeira é de pedra de Ançã (espécie de pedra sabão) policromada, nas cores blau, ouro e sinopla.  É uma imagem barroca, quinhentista de 3,61 pés, tendo como atributos no braço esquerdo o Menino Deus e, no direito, uma pomba, que, desde o episódio da Arca de Noé, passou a ser o símbolo teológico da Esperança.  Na cabeça, uma coroa dos quatro arcos imperiais, da dinastia portuguesa dos grandes descobrimentos.

 

A imagem, que se vê acima, também veio de Portugal, mas foi confeccionada por santeiros de Braga.  É venerada na Igreja de Nossa Senhora da Esperança, em Botafogo, no Rio de Janeiro, onde foi entronizada, em 1965, quando da criação desta Paróquia, que foi desmembrada da Paróquia São João Batista da Lagoa.